terça-feira, 12 de junho de 2012

    Os outros imaginaram minha vida para mim. Eu seria uma grande escritora melancólica existencialista niilista direitista vivendo em 1889, dando aulas de literatura no Dom Pedro II. Teria traços de Virginia Woolf e Clarice Lispector, com vocabulário de Augusto dos Anjos. Emocionalmente prolixa e socialmente cauterizada, eu seria summa cum laude. Uma carreira meteórica e uma queda igual. Eu casaria com algum cara gentil que me curaria desse buraco enorme que existe no meu crânio. Esse vazia que nunca me abandona, o desespero que me busca, todo dia, às 12h.  Ele me levaria a Londres e a Berlim. Eu o ensinaria a comer wurst e sauerkraut, o ensinaria  falar corretamente entschuldigung. Ele me ensinaria a leveza das coisas e coisas assim.
   Não foi assim. Eu optei por uma carreira estúpida entre químicas e biologias, e me perco nas páginas eternas da fisiologia. Não me reconheço escrevendo, nem mesmo no espelho.


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Greve, né. Agora posso estudar alemão e ler meus jogos vorazes.

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