quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Não sei andar de bicicleta e não sei dirigir um carro. Não sei fazer letra de forma ou escrever de trás para frente. Não sei jogar volêi, basquete ou handebol. Não sei falar húngaro, tcheco, sueco ou francês. Não sei como se faz chocolate ou diferenciar os tipos de pimenta. Não sei como o avião faz para voar ou como navios não afundam. Não sei o que conduziu a Guerra de Secessão nos Estados Unidos ou o contexto histórico da Guerra dos Farrapos. Nunca brinquei com o Parque do Tubarão Hot Wheels e o bugre da Barbie. Nunca li Hemingway ou Fitzgerald, tampouco Sun Tzu. Nunca fui a Paris. Nunca entrei no CTI de um hospital. Nunca pratiquei Pilates ou atendi a uma aula de yoga. Nunca fui a uma praia deserta nem subi numa prancha de surfe. 

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Uma curiosidade de família

A família do meu avô por parte de mãe constitui quase que 90% da minha família ''ativa''. Da família do meu pai e da minha avó por parte e mãe: nunca vi, nem comi, eu só ouço falar. Meu avô, já falecido tinha 9 irmãos, poucos ainda estão vivos. Minha vó fazia parte da família do meu avô desde sempre, ela era uma daquelas primas de septuagésimo grau que a gente só encontra em festas de tia avó. Entretanto,  eles só vieram a se conhecer de verdade nesses bailes de década de 50 que meu avô deveria frequentar sempre. Segundo as minhas tias, irmãs do meu avô, ele era um bon vivant. Não perdia uma festa e uma oportunidade de beber e fumar a noite inteira - o que lhe rendeu sérias consequências no final de sua vida. Mesmo 30 anos após ter parado de fumar, mas isso é outra história. 

Meu avô e minha avó se casaram e tiveram dois filhos no final da década de 60. Um menino e uma menina. Meu tio e minha mãe frequentavam a casa da prima do meu avô, que era professora e os ajudava com os estudos, quase todo final de semana. Ela morava num prédio de poucos andares, possivelmente no Engenho Novo. No primeiro andar, morava um jovem casal com dois filhos. O apartamento ficava no primeiro andar e tinha uma varanda estendida, tipo um jardim de inverno, onde as crianças brincavam. Da sacada do apartamento da prima do meu avô, meu tio e minha mãe ficavam vendo as crianças brincarem lá embaixo.

Uma dessas crianças do primeiro andar era uma menina da idade da minha mãe, pouco mais nova que meu tio. Na década de 80, meu tio conheceu essa menina do primeiro andar na rua, por intermédio da amigas amigas da minha mãe. Hoje eles são casados e tem uma filha.

Meu avô faleceu em outubro de 2007 e minha avó em outubro de 2012, ambos do mesmo câncer em fase 4.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

24.08 - Ainda é agosto


Às vezes, ainda com a cabeça no travesseiro, eu me deixo levar por essa fantasia que parece mais realista a cada manhã. A cada manhã, relutantemente eu acordo. Eu não preciso abrir os olhos para sentir meu corpo, célula a célula, se transformar em líquido e escorrer pelo ralo. Meu corpo líquido escorre pelo chão, pelos ladrilhos e vai embora pelo ralo, se misturando com o esgoto não tratado, seguindo em direção ao mar. Me torno cada vez mais dispersa e meu corpo já se dissolveu quando chega ao mar. Perco minha unidade, me torno menos eu e viro parte do mar. Indetectável.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Muddy Waters

Memória olfativa

Dia desses eu estava passeando pelo Rio de Janeiro (pois a Barra da Tijuca é uma cidade, quiçá um país) e eu  lembrei-me dos cheiros de verão: protetor solar, areia, água salgada e suor. Eu não tenho boas lembranças dos meus verões em Angra dos Reis. A praia me entendia, o fundo do mar me assusta, o protetor solar é oleoso demais e calor me deixa desconfortável. Eram horas demais debaixo do sol para supostamente descansar, esquecer do trabalho e aproveitar as férias.
Mas apesar daquelas horas intermináveis e semi-desmaios no calor do sol, eu sinto falta daquela praia. Era fazia, dentro de um condomínio fechado e as ondas eram vigorosas, escuras e barulhentas, porém inspiravam segurança. A corrente te traria de volta. Na areia da praia, encontrávamos todos os tipos de cascalhos, bem polidos ou não pelo ir e vir do mar, de todas as cores. Os leitosos valiam mais, eu procurava pelos pretos.
Eu sinto falta de ir, apenas por ir, ansiar pela viagem pois nada me prendia aqui. Nada me fazia querer voltar, pois nada me esperava. Sinto falta de ser só eu, não sei. Não quero quero ser um círculo, um conglomerado de pequenas pessoas, pequenos animais, pequenas manias, pequenos vícios que trazem de volta para casa.

domingo, 17 de junho de 2012

17.Jun

Ohne dich kann ich nicht sein.




terça-feira, 12 de junho de 2012

    Os outros imaginaram minha vida para mim. Eu seria uma grande escritora melancólica existencialista niilista direitista vivendo em 1889, dando aulas de literatura no Dom Pedro II. Teria traços de Virginia Woolf e Clarice Lispector, com vocabulário de Augusto dos Anjos. Emocionalmente prolixa e socialmente cauterizada, eu seria summa cum laude. Uma carreira meteórica e uma queda igual. Eu casaria com algum cara gentil que me curaria desse buraco enorme que existe no meu crânio. Esse vazia que nunca me abandona, o desespero que me busca, todo dia, às 12h.  Ele me levaria a Londres e a Berlim. Eu o ensinaria a comer wurst e sauerkraut, o ensinaria  falar corretamente entschuldigung. Ele me ensinaria a leveza das coisas e coisas assim.
   Não foi assim. Eu optei por uma carreira estúpida entre químicas e biologias, e me perco nas páginas eternas da fisiologia. Não me reconheço escrevendo, nem mesmo no espelho.


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Greve, né. Agora posso estudar alemão e ler meus jogos vorazes.