sexta-feira, 24 de agosto de 2012

24.08 - Ainda é agosto


Às vezes, ainda com a cabeça no travesseiro, eu me deixo levar por essa fantasia que parece mais realista a cada manhã. A cada manhã, relutantemente eu acordo. Eu não preciso abrir os olhos para sentir meu corpo, célula a célula, se transformar em líquido e escorrer pelo ralo. Meu corpo líquido escorre pelo chão, pelos ladrilhos e vai embora pelo ralo, se misturando com o esgoto não tratado, seguindo em direção ao mar. Me torno cada vez mais dispersa e meu corpo já se dissolveu quando chega ao mar. Perco minha unidade, me torno menos eu e viro parte do mar. Indetectável.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Muddy Waters

Memória olfativa

Dia desses eu estava passeando pelo Rio de Janeiro (pois a Barra da Tijuca é uma cidade, quiçá um país) e eu  lembrei-me dos cheiros de verão: protetor solar, areia, água salgada e suor. Eu não tenho boas lembranças dos meus verões em Angra dos Reis. A praia me entendia, o fundo do mar me assusta, o protetor solar é oleoso demais e calor me deixa desconfortável. Eram horas demais debaixo do sol para supostamente descansar, esquecer do trabalho e aproveitar as férias.
Mas apesar daquelas horas intermináveis e semi-desmaios no calor do sol, eu sinto falta daquela praia. Era fazia, dentro de um condomínio fechado e as ondas eram vigorosas, escuras e barulhentas, porém inspiravam segurança. A corrente te traria de volta. Na areia da praia, encontrávamos todos os tipos de cascalhos, bem polidos ou não pelo ir e vir do mar, de todas as cores. Os leitosos valiam mais, eu procurava pelos pretos.
Eu sinto falta de ir, apenas por ir, ansiar pela viagem pois nada me prendia aqui. Nada me fazia querer voltar, pois nada me esperava. Sinto falta de ser só eu, não sei. Não quero quero ser um círculo, um conglomerado de pequenas pessoas, pequenos animais, pequenas manias, pequenos vícios que trazem de volta para casa.

domingo, 17 de junho de 2012

17.Jun

Ohne dich kann ich nicht sein.




terça-feira, 12 de junho de 2012

    Os outros imaginaram minha vida para mim. Eu seria uma grande escritora melancólica existencialista niilista direitista vivendo em 1889, dando aulas de literatura no Dom Pedro II. Teria traços de Virginia Woolf e Clarice Lispector, com vocabulário de Augusto dos Anjos. Emocionalmente prolixa e socialmente cauterizada, eu seria summa cum laude. Uma carreira meteórica e uma queda igual. Eu casaria com algum cara gentil que me curaria desse buraco enorme que existe no meu crânio. Esse vazia que nunca me abandona, o desespero que me busca, todo dia, às 12h.  Ele me levaria a Londres e a Berlim. Eu o ensinaria a comer wurst e sauerkraut, o ensinaria  falar corretamente entschuldigung. Ele me ensinaria a leveza das coisas e coisas assim.
   Não foi assim. Eu optei por uma carreira estúpida entre químicas e biologias, e me perco nas páginas eternas da fisiologia. Não me reconheço escrevendo, nem mesmo no espelho.


-

Greve, né. Agora posso estudar alemão e ler meus jogos vorazes.

domingo, 10 de junho de 2012

10. Jun

Eu queria alguém que seja o mais diferente possível de você. Alguém que quisesse crescer comigo. Que tentasse correr aquela maratona que passa no Aterro e na Niemeyer, e me levasse na Vista Chinesa. Me instigasse a gostar de futebol e perdesse a paciência comigo. Que criticasse até o fim dos dias e investisse na bolsa de valores.

10.Jun.12

Feliz dia 10.

terça-feira, 29 de maio de 2012

29.05 - Faculdade

Amanhã eu tenho prova na faculdade, de biologia molecular aplicada. É única matéria até hoje que eu assisti com prazer e interagia com o professor. Risos. São quatro horas da tarde e não estudei até agora. Nada.
Não sei dizer porque isso acontece.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

28.5 - autópsia.

Fizeram minha autópsia e não te acharam, mas eu disse que foi você o parasita que me matou. As provas bioquímicas não provaram sua presença, a biologia molecular não moldou um primer que se pareasse com seu DNA. A cada ''não tem mais jeito'', a cada beijo na bochecha, a cada centímetro que alimentava a distância, não física, entre nós dois posso dizer que um punhado de minhas células morriam.

Não me internaram e me disseram que eu ficaria melhor.
Não estou.

sábado, 26 de maio de 2012

26.Mai - Carla aberta ao meu cão

26.Mai - 2 livros

Essa semana me ocupei da leitura de dois novos livros. No sábado, comprei o segundo livro dos Jogos Vorazes: Em chamas - sem críticas, ok. Risos. Digo que aproveitei melhor esse do que o primeiro. Para mim, a leitora aprimorou a escrita dela em relação ao segundo pois quando o li o primeiro tive que parar e respirar em função da pobreza da linguagem. Tudo bem que é um livro infanto-juvenil, seja lá o que for, mas um pouco mais de capricho não faria mal. Devo ter terminado a leitura no domingo mesmo e... gostei. Me deixei (próclise    no começo de oração sim senhor bjs) envolver mais por esse livro. Com certeza comprarei o segundo.
O segundo foi o Norwegian do Haruki Murakami. Vou te dizer que to procurando esse livro há alguns meses.
~~ sub texto: eu considero comprar livros pela internet um experiência não louvável~~ Mas nunca achava na Travessa, Saraiva, Fnac, enfim... Comprei pela internet, chegou, e na minha solidão li tudo na aula de fisiologia cardíaca (LI MESMO). Minha opinião final: é bem japonês.


domingo, 20 de maio de 2012

19.Mai

Não passo da página de Irmãos Karamázov, da página 50 de Anna Karenina e não passei da primeira página de Crime e Castigo. Mas, para meu orgulho, li 405 páginas de um livro em uma manhã e uma tarde. Jogos Vorazes. Só rindo né. A minha vida anda uma piada tão grande, mas tão grande e hipertrofiada, que só me resta dormir. 3 antialérgicos de primeira geração por noite são suficientes ára me fazer dormir até 3 da tarde do dia seguinte. Mas esse é um post sobre literatura RUSSA (não miro baixo, abs), não sobre minha vida deprimente (solitária)

posts sérios virão
ou não

sexta-feira, 18 de maio de 2012

18.Mai

Trívia: O homem  que não sentia foi uma redação minha que tirou nota A (que piada, brasil) e foi para a coletânea de textos do colégio, três anos atrás.

18.Mai

Uma vez eu escrevi um  conto sobre um homem solitário que foi lobotomizado de seus sentimentos, antes mesmo de nascer. Ele apenas era, ou talvez apenas fosse o que outros achavam, trabalhava, assistia a televisão, enfrentava a fila do banco por não saber usar o caixa eletrônico e atravessava a rua sem olhar para os dois lados pois não sentia medo. Ele não era suicida, não era alto astral. Trabalhava arrumando documentos antigos, desapercebido.
A grande piada desse conto é que parece que eu me tornei esse homem sem nome, após tanto tempo querendo viver assim. Eu não quero viver, nem sobreviver. Eu quero morar numa quitinete, sem um centavo no banco, pagar minha conta de luz de oitenta reais, minha conta de gás de trinta reais, sentar todos os dias no mesmo banco, do mesmo ônibus, que passa na mesma hora. Trabalhar sem sobressaltos, ganhando o mesmo dinheiro, todo o mês, numa sala empoeirada entre papéis amarelos e esburacados. Chegar em casa, jantar a mesma comida gelada do fim de semana. Tomar meu antialérgico de primeira geração, dormir sem escovar os dentes com a minha roupa do dia anterior. Acordar no dia seguinte com meu nariz ressacado, minha garganta ressacada, meus olhos secos. Pegar o ônibus, sentar no banco elevado que fica sobre a roda, que passa às 6:45 da manhã, de segunda a sexta.
Já falei que não quero viver. Eu não quero mais porra nenhuma.


Não sei nem mesmo como redigir.